Inteligência artificial ou inteligência do coração?

O CEO Ravi Venkatesan comenta a evolução da inteligência artificial — de seus limites tecnológicos à reflexão sobre consciência, presença e a inteligência que nasce do coração
Ravi Venkatesan pratica Heartfulness há mais de 20 anos e atua como CEO da empresa de tecnologia Cantaloupe. Ele mora nos Estados Unidos e é apaixonado por aplicar lições de meditação para melhorar os relacionamentos e a produtividade no ambiente de trabalho.
Venkatesan aponta que vivemos um momento singular na história das tecnologias: ferramentas que pareciam saídas de filmes de ficção científica hoje fazem parte da nossa vida cotidiana. A inteligência artificial, materializada por ferramentas como ChatGPT e Deepseek, estão remodelando a forma como trabalhamos, aprendemos, criamos e nos relacionamos.
Mas, em meio a essa revolução tecnológica, surge uma pergunta profunda, que ressoa especialmente para quem trilha o caminho do autoconhecimento: será que uma inteligência criada por máquinas pode se aproximar da inteligência que nasce da consciência?
A jornada da inteligência artificial
A busca por criar máquinas inteligentes começou no século passado. Desde os anos 1940 e 1950, cientistas tentam fazer computadores imitarem a capacidade do cérebro humano de aprender, pensar e tomar decisões.
O matemático britânico Alan Turing propôs, em 1950, um teste simples e ao mesmo tempo revolucionário: se uma pessoa conversar com uma máquina e não conseguir distinguir de um ser humano, então essa máquina demonstrou inteligência. Assim nasceu o conceito do Teste de Turing.
A partir daí, a IA viveu avanços e recuos. Nos anos 90, vimos o supercomputador Deep Blue, da IBM, derrotar o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov. Depois, em 2005, um robô da Universidade de Stanford percorreu aproximadamente 210 quilômetros de forma autônoma no deserto.
O salto seguinte veio com o DeepMind, do Google, que venceu o campeão mundial no jogo de Go ao utilizar uma técnica chamada deep learning, muito mais sofisticada do que qualquer tentativa anterior.
Ainda assim, até esse ponto, a IA era algo restrito, dependente de investimentos bilionários e de uma infraestrutura robusta, acessível apenas a governos e grandes empresas.
O salto da IA generativa
A verdadeira transformação começou com a chegada da IA generativa, como é o caso do ChatGPT. Pela primeira vez, temos uma IA capaz de realizar uma ampla gama de tarefas: escrever textos, responder perguntas, criar músicas, gerar códigos de programação, compor poesias e muito mais.
E o mais surpreendente: ela não apenas gera respostas, mas também explica como chegou a elas. Essa capacidade faz com que a interação com a IA pareça, muitas vezes, uma conversa com alguém articulado e inteligente.
Essa tecnologia se popularizou rapidamente: em apenas dois meses, o ChatGPT alcançou a marca de 100 milhões de usuários, algo sem precedentes na história.
A IA é consciente?
Essa pergunta nos convida a uma reflexão profunda — especialmente para aqueles que, como nós, buscam compreender os mistérios da mente, do coração e da consciência.
Para explorar essa questão, podemos observar quatro aspectos fundamentais da experiência humana:
- Intelecto – Morada da lógica e da razão. A IA já domina a lógica há décadas e, agora, começa a simular processos de raciocínio.
- Ego – O senso de identidade. Embora seja possível programar uma espécie de “eu” artificial, a forma como esse senso de identidade se constrói, se molda e se transforma em um ser humano é algo que nenhuma máquina ainda conseguiu replicar.
- Mente – Um espaço vasto que integra percepções sensoriais, memórias, emoções, pensamentos, imaginação e criatividade. Aqui, a IA começa a dar seus primeiros passos. Ferramentas como o ChatGPT já são capazes de criar textos poéticos, músicas, roteiros e histórias. No entanto, é uma criatividade que nasce de padrões, dados e probabilidades — ainda muito distante da imaginação intuitiva e sensível do ser humano.
- Consciência – A base de tudo. A consciência é a presença silenciosa, a capacidade de observar a própria mente, de perceber-se além dos pensamentos, além do intelecto, além do ego. Aqui, nenhuma inteligência artificial, por mais avançada que seja, consegue sequer tocar o que experimentamos profundamente na prática meditativa.
Se considerarmos consciência como um simples processamento de dados e reações a estímulos, podemos dizer que a IA tem um tipo de consciência — limitada, programada, derivada de algoritmos.
Mas, se entendemos consciência como aquilo que se manifesta no silêncio interior, no espaço onde surge a intuição, o amor, a empatia, a criatividade pura e a conexão com algo maior — então a IA está infinitamente distante dessa dimensão.
Para onde estamos indo?
A inteligência artificial avança de forma acelerada. Ela já transforma o mercado de trabalho, a educação, a comunicação e muitos aspectos da vida moderna. Assim como outras grandes inovações na história, ela traz consigo imensas oportunidades, mas também desafios éticos, emocionais e sociais.
No entanto, por mais fascinante que seja, a IA ainda não replica — e talvez nunca venha a replicar — aquilo que nos torna verdadeiramente humanos: nossa capacidade de amar, de sentir, de intuir, de silenciar, de perceber além da lógica.
A tecnologia pode nos ajudar muito — e deve ser usada de forma consciente, ética e equilibrada. Mas nenhuma inteligência artificial substitui o que nasce do coração humano.
Inteligência artificial e inteligência do coração
Na prática do Heartfulness, aprendemos a aquietar a mente, a silenciar os ruídos internos, a acessar um espaço de quietude, clareza e amor. Nesse espaço, descobrimos uma inteligência muito mais sutil, profunda e poderosa do que qualquer IA: a inteligência do coração.
Enquanto o mundo olha para fora, encantado com a inteligência das máquinas, somos convidados a olhar para dentro e redescobrir aquilo que nenhuma máquina jamais poderá simular: a consciência viva, a presença amorosa e o estado natural do ser.
Que possamos caminhar nesse mundo tecnológico com os pés na Terra, a mente desperta e o coração plenamente consciente.
Adaptado do artigo da Revista Heartfulness: ChatGPT – revolução ou hype?